segunda-feira, 13 de agosto de 2007

APOENA - O HOMEM QUE ENXERGA LONGE


Este é um livri muito especial... E é também comemorativo!
Apresenta o livro "Apoena – o homem que enxerga longe”.
E comemora sua publicação...



"Apoena – o homem que enxerga longe” é resultado de 25 anos de acompanhamento da vida e da obra de Apoena Meirelles, um dos mais importantes indigenistas brasileiros, e seus desdobramentos.
Filho de Francisco Meirelles, de quem foi seguidor, Apoena participou e muitas vezes comandou o processo de aproximação, contato e incorporação à sociedade formal de várias das maiores tribos indígenas brasileiras, entre elas Suruí, Cinta-Larga, Gavião, Zoró e Uru-eu-Wau-Wau, além dos Avá-Canoeiros.
Este livro é resultado de reportagens, entrevistas, pesquisas e compilações de textos efetuados por Lilian Newlands, com a colaboração de Aguinaldo Araújo Ramos, desde o final de 1981, quando de sua primeira viagem a Rondônia e ao denso mundo de Apoena.

Ecos do lançamento...

Um rápido registro do lançamento do livro Apoena – o homem que enxerga longe.
Os autores podem dizer que foi além da expectativa, com muito mais gente do que se esperava... Com a presença de muitos amigos, grato a todos!





Lilian Newlands agradece, Aguinaldo Ramos (à esq.) acompanha (foto: Márcia Hortência).







E muita emoção também... Estava grande parte da família de Apoena Meirelles, três de seus filhos (Tainá, veio da Suíça; Francisco, veio de Goiânia, belas figuras...), duas irmãs e a mãe, Abigail, de 80 e poucos anos, além de vários primos.
E, ainda, muitas pessoas ligadas às questões indígenas, inclusive índios mesmo...


Letícia Spiller conversa com uma das índas presentes (foto: Cleomir Tavares/Photo Rio News)







O ponto alto da noite foi a leitura de textos do livro, com destaque para Letícia Spiller (que, altamente motivada pelas questões indígenas, chorou de emoção ao ler...) e Tessy Callado, filha de Antonio Callado (que conheceu Apoena no Parque do Xingu), além de Jac Fagundes e Sérgio Fonta.



Letícia Spiller, ao lado de Jac, Sérgio e Tessy, lê trechos do livro (foto: Cleomir Tavares/Photo Rio News).








quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Lançamento




Apoena – o homem que enxerga longe” foi lançado no Rio de Janeiro, no dia 7 de Agosto de 2007, às 19h, no Bar Desacato – Gastronomia de Botequim (e certamente seu lado boêmio aprovaria o local...), à rua Conde de Bernadotte, 26-A, Leblon.

Artistas profissionais, admiradores de Apoena Meirelles, entre eles Letícia Spiller e Sérgio Fonta, farão a leitura de trechos do livro.


Letícia Spiller com o livro, coluna do Ancelmo Góes,
jornal O Globo, 31/07/07.











Estava previsto, entre outros, um lançamento na cidade de Goiânia, GO, a ser organizado pela Editora UCG, da Universidade Católica de Goiás.

Conteúdo

O livro “Apoena – o homem que enxerga longe” tem 223 páginas, em tamanho 21 x 15,5cm e papel off-set 75g.
Foi publicado pela Editora da Universidade Católica de Goiás – UCG, umas das mais respeitadas editoras brasileiras nas questões do indigenismo e no âmbito das Ciências Sociais.
Para comprar, informações em postagem abaixo. Para contato com os autores: aaraujoramos@gmail.com.

Adiante, trechos do livroApoena – o homem que enxerga longe”.

As reportagens de Lilian Newlands

Lilian no avião, Rondônia, 1981, foto A. Ramos



Jornalista de larga experiência, tendo trabalhado muitos anos no Jornal do Brasil, Lilian fez várias viagens a Rondônia na década de 80. Na primeira delas, no final de 1981, em companhia do fotógrafo Aguinaldo Ramos, viajou com Apoena Meirelles por várias aldeias, buscando recuperar a história de Possidônio Cavalcanti, jornalista que, tendo optado por ser indigenista, tinha sido morto pelos Cinta-Largas dez anos antes.

Possidônio e índio suruí, década de 1970.








Nas reportagens, Lilian Newlands reconta a saga de Apoena:
Foi naquele final dos anos 60 que Apoena vivenciou uma experiência que deixaria para sempre marcas de um afeto e uma amizade incondicionais – com os Surui de Rondônia.
Um longo tempo se passou até que o filho de seu Chico estabelecesse o primeiro contato face a face com um integrante desse povo. Desprezando todas as precauções aconselháveis pelos que exercem o ofício, Apoena, completamente sozinho, embrenhou-se mata a dentro e, despido, correu precipitado ao encontro do Surui Nauara, num gesto histórico inesquecível de coragem e humanidade.
- Ele tremia e eu também, confessou anos mais tarde, ressaltando que essa tribo foi a primeira que ele contatou sozinho, daí sua compreensível importância na vida do sertanista.


Apoena na Presidência Funai, com Denise

Lilian fala também sobre Denise, mulher de Apoena, a quem acompanhou em visitas a várias tribos da região:
As noites antigas e frias passadas às margens do rio Pakaas-Novos, de águas escuras e apressadas, marcaram uma passagem que dificilmente esquecerei enquanto viver. Em parte pelos índios que ali viviam, os belos e enigmáticos Pakaas-Novos, em parte por ter presenciado a maneira como Denise Maldi se relacionava com eles.
(...) Antropofagia era assunto tabu, não gostavam de mencionar, a inibição impedia, provavelmente por conta da influência missionária:
- Ninguém precisa falar nada, se não quiser – disse Denise.
Mas, para ela, os Pakaas-Novos falaram. Esclareceram que a preferência ia para os braços e as pernas, e que os últimos rituais teriam sido realizados nos anos 60.

Os textos de Aguinaldo Araújo Ramos

Aguinaldo Ramos em Rondônia, 1981 - foto Lilian Newlands

Fotógrafo do Jornal do Brasil, Aguinaldo Ramos viveu, ao lado de Lilian e Apoena, ao viajar pelas principais aldeias indígenas de Rondônia nestas semanas do final do ano de 1981, uma das suas mais importantes experiências profissionais, das quais fala em seu depoimento O Caos de Apoena:
E se há outra coisa que eu não compreendia era a vida do Apoena.
Quer dizer, tecnicamente ou sociologicamente (ou por qualquer um desses critérios que se inventa para explicar porque é que deixamos de fazer o ideal e simplesmente carregamos nosso piano cotidiano), aí é muito fácil... O cara era filho de sertanista, viveu desde guri entre brancos e índios, acompanhou muitos primeiros contatos, não tinha mesmo nenhum motivo para preferir ser bancário (e sei que há nisso uma ironia mortal...). Certo. Mas, porque persistia nesse esforço insensato de administrar o caos?

 


Colabora ainda, na edição do livro, assinando um rápido perfil de Chico Meirelles, pai de Apoena:

Em 1939, em Guajará-Mirim, conheceu Abigail, moça belíssima, com traços de descendência dos índios quíchuas. No mesmo dia, foi falar com seu irmão e, pouco depois, os dois partiam para a área dos Pakaá-Nova. Os índios, de uma região cortada pela ferrovia Madeira-Mamoré e frequentemente invadida por seringueiros, estavam em guerra. No correr dos três anos de atração, em que muitos trabalhadores do SPI foram flechados (onze deles mortos), nasce sua primeira filha, Lídice.


Chico Meirelles na revista da Funai

E participa também com um pequeno mas incisivo ensaio sobre as condições do período final da vida de Apoena Meirelles:
Neste ponto se inicia a última etapa da vida de Apoena Meirelles, abre-se o último capítulo da sua amorosa relação com o índio brasileiro. Não que a sociedade tenha lhe dado o tratamento de “herói reabilitado” ou de “salvador da pátria”, que não caberia (nem ele assumiria...), mas sua nomeação para coordenador da força-tarefa para a questão da mineração de diamantes na área da Reserva Roosevelt, reconhece nele autoridade e experiência para promover o diálogo entre os Cinta-larga e os invasores.


Poema de Tainá Meirelles, filha de Apoena

O sentimento de Tainá, relembrando o pai: 
Que as palavras eram poucas, mas significavam muito.
Que os momentos eram raros, mas belos e intensos. Mas não haverá mais momentos. Que eu não vou mais saber espelhar-me em ti, pois meu espelho se quebrou...

Os depoimentos de Denise

Denise Maldi, mulher de Apoena, escreveu sobre sua vida (e suas aventuras) ao lado de Apoena.
Fala dos contatos com os índios:
Era, então, dezembro de 1972. Quando finalmente o vi, senti-me subitamente calma, com a certeza absoluta que os próximos anos da minha vida seriam ao seu lado. Sete meses depois, com menos de 15 dias de casada, eu voava com ele para a Frente de Atração Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, onde se dava prosseguimento aos trabalhos dos irmãos Villas Boas na “pacificação” dos índios Kren-Akarore.





Denise entre os Pakaás-Novos - foto Lilian Newlands

E também com os “civilizados”:
A área grilada – que quando Apoena denunciou pela primeira vez contava com 100 famílias –
dera origem a uma cidade, Espigão d’Oeste, hoje capital de um município. Ali, um dos chefes da colonizadora espalhava o ódio aos índios em geral e a Apoena em particular, fazia ameaças e mandava “recados”, dizendo estar preparando uma tocaia para matá-lo.
Nas cidades, como num filme do velho oeste, todo mundo andava ostensivamente armado.
Toda essa ocupação desordenada já deixara saldos trágicos em vidas sepultadas: tanto índios quanto brancos. Alguns anos antes, no Posto Roosevelt (Cintas-Largas) morreram o jornalista Possidônio Bastos e o radiotelegrafista Acrísio Lima. Vítimas do equívoco que acabou confundindo-os, aos olhos dos índios, com os seus inimigos.

Os diários de Apoena


Mesmo em meio aos maiores desconfortos, muitas vezes em tapiris (abrigo contra as chuvas, feitos de folhas, nas florestas, às margens dos rios) das frentes de aproximação, Apoena registrou sentimentos, angústias e esperanças em seus diários, uma parte deles recuperada no livro:

Apoena e Zé Bel nos Zorós, 1978 - foto Leonard Greenwood

 03/05/73 > A noite está linda, um verdadeiro caos toma conta do meu interior, procurei meu gravador e o encontrei totalmente desmantelado, pois os Kren-Akarore quiseram ver quem é que falava dentro daquela caixinha.
Recebi um rádio de Cuiabá que me deixou puto, pois pedia que racionássemos os mantimentos. Respondi pedindo que eles racionassem as compras de papel de material de expediente, começando por evitar gastarem papel com rádios sem sentido.
Que todos os burocratas se (...)...




Uma entrevista de Apoena

Apoena faz um balanço dos acontecimentos em entrevista a seu primo, o jornalista Sérgio Meirelles:



Hoje, os próprios índios determinam sua história. Antigamente, dava-se ênfase às opiniões do meu pai, dos Villas Boas, ao mesmo tempo que ficava em evidência também o discurso do governo. Enfim, todos falavam pelos índios. Agora eles falam por eles, não precisam de porta-vozes. Participam, discutem e defendem seus pontos de vista.


Apoena copiloto, Rondônia, 1981 - foto Aguinaldo Ramos

Comentários ao livro

O jornalista Carlos Ramos enfatiza, na orelha do livro:
Apoena – o homem que enxerga longe, além de ser um daqueles livros que se quer devorar em uma noite e mantê-lo como de cabeceira eternamente, mexe com a imaginação do leitor. Dá a sensação de que essa história precisa ser registrada pela Sétima Arte. Fica a sugestão aos cineastas e produtores de cinema.

Na Apresentação do livro, os Editores afirmam:
Neste livro estão contidos detalhes, textos e depoimentos que não se perderam nem perderam sua atualidade. É uma história de paixão e coragem (...).
E mostra, também, porque a função do sertanista pode ser considerado um caso único na história da humanidade.


Lilian Newlands, na contracapa, em relação a Apoena Meirelles, sua mulher Denise Maldi e tantos dos seus amigos mortos na floresta, como o sertanista Zé Bel, o piloto Ari Dal Toé e o jornalista Possidônio Cavalcanti, afirma:
Eram todos jovens, amavam a vida, foram movidos por paixões diversas e tiveram seus legados reconhecidos. Levaram vidas intensas e pode-se dizer que, por muitas vezes, tocaram a felicidade que a mata lhes concedeu.
Se o final foi trágico, a vida foi plena. Nos dias de hoje isso constitui quase um milagre.

Para adquirir o livro

Apoena – o homem que enxerga longe”, está, aparentemente, esgotado.
Talvez possa ser encontrado em pontos de venda da Editora UCG, da Universidade Católica de Goiás.

Leitores de outras cidades do Brasil podem adquirir exemplares usados através da Internet, nos sites da Estante Virtual, da Amazon, do Mercado Livre, enquanto está esgotado em diversos outros.